Goiânia em O azarento, filme de 1972
Cena do filme O azarento, um homem de sorte, plongé sobre o caótico trânsito de Goiânia em 1972 |
O filme O azarento, um homem de sorte, do mineiro radicado em Goiânia João Bennio (1927- 1984), é ainda uma obra marcante, principalmente pela qualidade do roteiro. A direção e as atuações deixam a desejar, mas as marcas de tensão e comicidade permanecem com grande valor cinematográfico.
Em sua maior parte, ambientado em Goiânia, o filme foi a
primeira investida de Bennio na direção de um longa-metragem. Bennio também assina
o roteiro, junto com Carlos del Pino, a partir de uma premissa do próprio
diretor. A trilha sonora vai do cancioneiro popular à jocosa homenagem às
cantigas de roda (como Ciranda,
cirandinha e Escravos de Jó).
Vivido pelo ator fluminense Paschoal Guida, o azarento,
cujo nome não aparece na história, por onde passa coincide com uma série de
acidentes. Sempre que chega a algum lugar, as coisas fogem do controle e todo
mundo só se lasca.
Morando no interior de Goiás, apaixonado por uma mocinha
muito bonitinha, o azarento deixa sua terra natal para livrar seus conterrâneas
das desgraças atreladas à sua presença. Parte para Goiânia, jovem capital do
Estado, onde tudo era célere. Talvez aqui, sua vida melhorasse. Mas continua do
mesmo jeito.
Em Piracanjuba, ao se juntar a um cortejo fúnebre, uma
cruz bate numa caixa de marimbondos, que descem sobre as cabeças das pessoas
ferroando todo mundo. Todos fogem, só fica o morto em seu desolado caixão no
meio da rua. O azarento então segue para Goiânia. No meio do caminho, causa um acidente
entre os dois únicos carros que passavam pela rodovia.
Semáforos e sandices
Ambulâncias o levam para a capital. E aí, começa uma série
de acidentes, sempre onde o azarento está. Neste rol de infortúnios, inclui a
célebre cena da Praça do Bandeirante, em que os semáforos dão pane e os carros
das quatro pistas das avenidas Goiás e Anhanguera se enroscam num círculo sem fim.
Nessa época, naquele cruzamento havia um vão circular, sem
barreira nenhuma, só a estátua bem no meio, com uma estrutura em que ficavam os
semáforos. Nessa época, a fama do caos no trânsito de Goiânia também já era
grande, principalmente naquele lugar. Apesar disso, é o exagero cômico que acentua
o fracasso da engenharia de tráfego.
O azarento, um homem
de sorte,
ambientado em vários lugares, como a zona rural de Goiás, diversas locações em
Goiânia e Rio de Janeiro, tem a capital goiana como seu cenário principal. O
espectador pode ver uma Goiânia verdejante, aos 39 anos, meio que florescendo
para a vida de principal cidade do Estado.
Muitos prédios já despontavam no horizonte da jovem
cidade, mas talvez a saudade dos nostálgicos fique por conta da Avenida
Anhanguera ainda com seu canteiro esvoaçante de palmeiras bem verdes e
longilíneas. Os takes não se abrem muito. Mesmo assim, pode-se apreciar uma bela
Goiânia da década de 1970.
Como já disse, o filme de Bennio tem um roteiro genial,
que poderia ser aproveitado num remake, sem dever nada a qualquer outro filme
do gênero. No campo das atuações, destaque para a então jovem atriz Sandra
Barsotti, que aparece nas cenas finais. Ela, sim, neste filme já dizia a que
vinha, embora sua carreira tenha ficado marcada pelos filmes de pornochanchada.
Mas até hoje faz novelas na Globo, e continua bela.
Assista ao filme, disponível no Youtube.
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